segunda-feira, 4 de março de 2013

Clarice, Clarice...



"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais."


Clarice Lispector.


Quem nunca teve um dia inquieto, com o coração apertado?

Quem nunca clamou por um Deus? Por uma ajuda divina? 
Quem nunca clamou e depois se culpou, pensando que o teu aperto no coração é irrisório se pensar em todas as coisas que Deus tem que resolver?
Quem nunca...?
Ainda bem que a segunda-feira acabou!

:)

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